sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sempre haverá público para obras de qualidade


“O país onde a indústria cultural é mais forte se chama Estados Unidos. Lá se produz lixo como em nenhum outro lugar do mundo, mas também é o país do jazz, das grandes orquestras sinfônicas, de clássicos cinematográficos e da melhor literatura. [...] Erra quem pensa que não adianta fazer música, literatura ou teatro bons porque não vai conseguir espaço nas gravadoras, editoras ou casas de espetáculo. Sempre haverá público para obras de qualidade (LIMA, 2005).”

João Gabriel de Lima, em seu texto, discorre numa tentativa de esclarecer o cenário da cultura em geral e dá um certo incentivo aos bons produtores culturais. Eu concordo planamente com ele. Porém, para continuar meu raciocínio, preciso antes fazer a pergunta: porque obras de má qualidade continuamente estão se multiplicando e sendo consumida aos montes?

Para qualquer coisa notável boa ou ruim que se apresente à massa, sempre haverá seus consumidores, o problema é, o quê, a massa está preferindo consumir. O grande público, se é que posso chamar assim, está sendo alimentado o tempo todo, através da indústria cultural, por um grande conteúdo de baixa qualidade que expõe, com perdão da expressão, o baixo caráter social do povo. Sim, a indústria cultural observa e pesquisa o que o povo tem tendência a aceitar e despeja ao consumo, não importa se presta, o que importa é que vende. Então, a primitivização dos costumes é potencializada, sem freios.

Público para conteúdo de qualidade existe sem dúvida, a exemplo da cantora Maria Gadú, que começa a despontar na mídia, de artistas de um humor mais politizado como os do programa CQC, da TV Band e atores deste mesmo nicho que apresentam espetáculos teatrais no estilo “Stand Up Comedy”. O que não existe é a massificação das obras de qualidade, isso porque precisa-se dar qualidade ao gosto da massa. Lima, na íntegra deste mesmo texto, coloca que a ausência de críticos dispostos a falar mal de obras de má qualidade (especialmente no Brasil, onde se encontram o que ele chamou de “críticos bonzinhos”, se referindo àqueles que se abstêm de falar mal para não serem desfavorecidos) favorece a disseminação de conteúdo de baixa qualidade.


Talvez não possamos eliminar o primitivismo natural da condição humana, mas, podemos sim educá-lo, domá-lo. Então, ao conferirmos maior resistência ao lixo que nos é oferecido, algum dia talvez incentivemos a indústria cultural a reproduzir cultura de maior qualidade e daí poderemos observar maior público para conteúdos de qualidade e mais gente incentivada a produzir com qualidade.


http://veja.abril.com.br/300305/p_052.html


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